25/09/2011 12h30 - Atualizado em 25/09/2011 13h22
'Super-Humanos': o britânico que aguenta nadar em águas congelantes
Sem a ajuda de roupas ou aparelhos, Lewis Gordon Pugh tem a habilidade
de aumentar a temperatura do seu corpo antes de fazer longas travessias
- Eu pensei que poderia ser o primeiro homem do mundo a nadar em lugares tão remotos, que os meus ídolos descobriram. Só que o meu foco foram os oceanos - contou o nadador.
A temperatura média do ser humano varia entre 36 e 37 graus e pode desabar rapidamente à exposição ao frio, em quatro ou cinco minutos. É o que explica o fisiologista e biólogo da USP, José Eduardo Bicudo.
- Quando a temperatura do centro do corpo atingir 32 graus, começa a acontecer a falência dos órgãos internos e o indivíduo acaba morrendo - destacou o especialista.
Para não seguir esse roteiro, Lewis treinou em piscinas de gelo, que deixavam a temperatura da água em seis graus. Confiante de que poderia ir longe, ele decidiu partir para um novo desafio: ser o primeiro homem a nadar um quilômetro na Ilha Petermann, na Antártica, em 2005.
Lewis eleva a temperatura de seu corpo para nadar em águas geladas.
Ao cair na água e nadar mil metros, os pesquisadores que o acompanhavam notaram que a temperatura corporal de Lewis ultrapassava 38 graus, acima do esperado para um humano.- Muito disso me parece algo mental, como se seu corpo estivesse se antecipando a dor. Eu coloco a minha mão em água quase congelando e em 30 segundos a dor é insuportável. Ele fez isso com o corpo todo e durante 20 minutos - afirmou o coordenador das travessias de Lewis, Tim Toyne-Swell.
No desafio seguinte, Lewis fez uma travessia de 204 km, em Sognefjord, no mar da Noruega. Nadou durante 18 dias, com a temperatura da água em três graus. Lá, os pesquisadores encontraram uma resposta para o caso. Antes de virar nadador, Lewis cumpriu uma temporada no exército britânico como paraquedista e encarou uma situação de vida ou morte num acidente aéreo.
- Um dos meus amigos saltou de para-quedas do avião e ficou preso pelo cabo da aeronave. Tive que resgatá-lo puxando o cabo e foi agoniante. Depois disso, todo e qualquer salto era um pesadelo para mim. O único modo de saltar era juntar toda a raiva que eu tinha e me atirar para fora. Quando comecei a treinar, não conseguia entrar na água gelada e um amigo me disse para eu pensar que era um salto e me concentrar. Segui esse conselho, me imaginei no avião e deu certo - disse.
Concentração
Para se isolar do ambiente, Lewis ouve música antes de cair na água para nadar. Assim, os hormônios circulam mais rápido pelo corpo, o coração dispara, o pulmão passa a ventilar mais oxigênio que o normal e os músculos começam a produzir calor, aumentando a temperatura corporal em dois graus e retardando a hipotermia.
Conhecendo mais sobre o seu dom, Lewis percebeu que, nadando, poderia carregar uma mensagem. Além da aventura, as travessias passaram a ter um enfoque político, chamando a atenção das pessoas para o aquecimento global.
- Eu queria ser a voz da água. Em todo o planeta, ela está sob ameaça. Quero procurar lugares do mundo em que eu possa nadar e carregar uma mensagem - contou.
Depois de 21 dias de travessia no Rio Tâmisa, na Inglaterra, Lewis decidiu procurar o maior desafio da carreira: o mar do Ártico, no Pólo Norte, com água a -1,5 graus.
- Me lembro de estar ali, olhando para a água e pensando que nunca tinha visto algo tão assustador. A água era preta e escura, mas era uma travessia política.
E foi nessa travessia que ele mostrou porque é um super-humano. Concentrado, nadou um quilômetro em pouco menos de 19 minutos e jurou nunca mais repetir tal desafio. Mas Lewis não cumpriu a promessa. No ano passado, ele nadou num lago perto do Monte Everest, a maior montanha do planeta e até deixou um recado para os brasileiros.
- Meu sonho é um dia nadar no Brasil. Há muitos lugares onde a água está sob ameaça no país. É o nosso recurso mais valioso e não podemos fazer nada sem ela - encerrou.
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