Ele lutava contra o cansaço extremo. Sentia o corpo chegando à exaustão. Depois de nove horas de prova, corria quase que mecanicamente em direção à linha de chegada.
Mas na última curva, Eduardo Akira Shikasho viu algo. Primeiro, quase parou. Depois, decidiu continuar e sentiu que o rosto molhava não apenas por causa do suor, mas também pelas lágrimas. Ali parada, logo à frente, no meio da pista de corrida, estavam a mulher e a filha de um ano.
Podia ter sido apenas mais um atleta terminando a mais difícil prova do triatlo da América Latina. Mas não foi. Aplaudido de pé, a família protagonizou uma cena que levou o público ao delírio e ficou eternizada pelas lentes dos fotógrafos que aguardavam na área vip.
Com a filha Isabela nos braços e a mulher Bianca Lerario, grávida de cinco meses, abraçada a seu corpo, Eduardo cruzou a linha de chegada aos prantos e aos berros, diferente de todos os campeões que vieram antes dele. Não quebrou recordes, nem sequer chegou em primeiro lugar. Mas chorou ao alcançar seu melhor tempo em oito disputas de Ironman Brasil: na categoria amador, Eduardo era o 8º colocado.
Naquele momento, não se tratava mais de um homem de ferro, como sugere o nome da prova. Eduardo era um Ironman e, ao mesmo tempo, um homem comum, de carne e osso, que lutou contra o sofrimento do corpo para chegar ao fim.
- Chorei por terminar a prova, por ter sido o meu melhor tempo, mas, principalmente, chorei por tudo que passei até chegar aqui. Eu não sou atleta profissional. Tenho minha vida, tenho um trabalho, tenho esposa e filha para cuidar. E não é fácil conciliar tudo isso. É um baita sacrifício - disse.
Eduardo, 35 anos, é proprietário de uma empresa de softwares em São Paulo. Era triatleta quando criança e adolescente e chegou a passar 14 meses treinando nos Estados Unidos. Mas quando a vida adulta começou a apertar, optou pela faculdade. Abandonou os treinos profissionais e focou no curso de Administração de Empresas. Pelo amor ao esporte, nunca conseguiu deixar os treinos totalmente de lado: saía aqui e acolá, como hobby, só para manter o corpo em forma.
Com a chegada do Ironman ao Brasil, resolveu desafiar a si próprio, com tudo o que tinha aprendido até então. Para conciliar os treinos com a vida pessoal e a vida profissional, Eduardo elaborou e cumpriu uma programação à risca. Acordava todos os dias às 4h15min e treinava até as 9h, quando partia para o trabalho. Fazia o mesmo depois das 20h, quando saía da empresa.
Agora, classificado para o mundial do Havaí, em outubro, ele continuará treinando duro, mas ainda não sabe como fará para competir. A segunda filha, Manuela, deve nascer na mesma época e ele nem pensa em titubear quando o assunto é família. Em 2012, estava inscrito no Ironman Brasil, mas desistiu da competição na última hora, para acompanhar o nascimento de Isabela. Este ano, pode nadar, pedalar e correr pela primeira vez como um atleta que também é marido e pai.
- É duro conciliar tudo. Eu sacrifiquei muita coisa nos últimos meses e é tão bom saber que minha família está do meu lado, torcendo por mim, me esperando. Não há emoção maior que essa.