sábado, 1 de fevereiro de 2014

Mais uma aposentadoria precoce


Não que exista um tempo determinado de carreira. Cada um é cada um. Se for para contar por anos de seleção brasileira: talvez tenha sido o suficiente. Se for para contar por recordes nacionais e sulamericanos batidos: foram realmente muitos anos. E se contar por medalhas de ouro, ou até mesmo por metros nadados: ok, já deu.
Mas por que então a sensação é que podia durar muito mais? Porque Joanna Maranhão é o tipo de pessoa que sempre deixou esperanças de uma natação melhor. Sem cartolagens, sem injustiças, sem picaretagens, sem se entregar ao sistema. Talento, apenas dedicação e talento. E olha que ultimamente não é fácil encontrar esse tipo de gente.
Não é à toa que perguntar sobre sua aposentadoria a faz brilhar os olhos, responder com alegria. No Mundial de Barcelona, ano passado, foi quando se deu conta que a aquilo não era mais seu ambiente.
“Foi uma série de acontecimentos que me fez criar consciência que não quero mais fazer parte da seleção brasileira e uma vez que não existe ‘nadar por nadar’ pra mim, eu resolvi parar. Todo esse reboliço e egoísmo que cerca 2016 não é pra mim.”
Joanna chora ao receber medalha no Pan; nadadora inspira os jovens
É isso. Joanna já tem data para pendurar o maiô: será no Campeonato Nordeste, que acontecerá em Recife mesmo, em abril. Seu ritmo de treinos já diminuiu bem e tem estagiado como auxiliar de Keycy Florêncio, tanto na borda da piscina como na preparação física, com a equipe da academia de Nikita.
“É importante ter alguém que fale a linguagem deles, explique o porquê de hoje ter uma série de 1×800 pra tempo e que não vai adiantar em nada nadar solto”
Seus objetivos depois de abril são bem claros e definidos. Terminar a faculdade de Educação Física, conseguir um emprego, dar andamento à ONG que está criando e mudar-se em breve para Belo Horizonte, onde mora seu namorado e também olímpico (mas do judô) Luciano Corrêa.
A ONG, que tem sede em Recife, é voltada pra crianças que sofreram abusos sexuais. Consta com um grupo de advogados, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, professor de dança e de natação. E a criança e sua família recebem o suporte que eventualmente precisarem. Inclusive, a ONG já está e ação, ajudando a primeira “paciente”.
Joanna participou de três Olimpíadas e tem como melhor resultado da carreira um 5º lugar nos 400 medley em Atenas, quando tinha apenas 17 anos. Até hoje é o melhor resultado feminino na história da natação, empatada com Piedade Coutinho nas Olimpíadas de 1936.
Durante toda a sua carreira, ficou muito conhecida não só pelos resultados de destaque, mas também por ser polêmica e sempre dizer o que pensa. A mídia adora isso e a mídia soube se aproveitar disso. Quem não soube se aproveitar foi a própria natação, que poderia ter usado Joanna como exemplo para reinvidicar – e conquistar – mudanças.
Joanna, muito mais do que medalhas, do que resultados, do que talento, agradeço pelo exemplo de caráter.
Atleta madura, mas com aposentadoria precoce.

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