domingo, 26 de janeiro de 2014

O Verdadeiro Brasil Olímpico!


Maurren Maggi, sobre o futuro: 'Dei uma


 semana para decidir se vou continuar'

Sem treinar há três meses, a campeã olímpica no salto em distância em Pequim-2008 pensa em encerrar a carreira

Maurre Maggi - Salto em distancia (Foto: Ari Ferreira/ LANCE!Press)
Saltadora, atleta e mãe, medalha de ouro em Pequim, mãe de Sofia, amante do esporte e guerreira...”. Em seu perfil no Twitter, essa é a descrição que Maurren Maggi faz dela mesmo. Agora, mais do que nunca, ela tem precisado batalhar. Afinal, um pouco mais de cinco anos após a primeira colocação no salto em distância na Olimpíada de Pequim-2008, ela cogita encerrar a carreira por falta de patrocínio. O prazo para decidir: este domingo.
Aos 37 anos e longe dos treinos há três meses, a atleta está sem clube e patrocinador desde o fim de 2012. Os últimos foram o São Paulo Futebol Clube e a Nestlé, respectivamente. Agora, ela tem buscado alternativas para fechar um novo acordo e conseguir boas condições para o treinamento e para sustentar a casa.
A saltadora recebe atualmente uma ajuda mensal do governo federal com o Bolsa Atleta (R$ 3,1 mil para competidores olímpicos e paralímpicos) e uma outra quantia da Caixa Econômica Federal, patrocinadora da Confederação Brasileira (CBAt). Ela considera pouco para reconquistar os bons resultados nas pistas.
Até por isso, deu um ultimato ao seu empresário. Ou ele consegue um patrocínio até domingo, ou ela vai repensar a carreira. Uma parada forçada e o retorno para São Carlos, no interior de São Paulo, não estão descartados. Ela, aliás, cogita até mudar de profissão para aumentar a renda.
Depois da conquista olímpica em 2008, a meta inicial de Maurren era seguir até os Jogos de Londres, em 2012. Ela conseguiu, mas, com uma lesão no quadril, não passou da fase classificatória para a final. Depois, a ideia era fazer avaliações anuais sobre sua condição, sempre pensando nas disputas dos Jogos Pan-Americano de 2015, no Canadá, e da Olimpíada de 2016, no Rio. Mas, talvez, os planos precisarão ser refeitos.
Na temporada passada, a saltadora voltou a sofrer com lesões. Em março, teve uma ruptura dos ligamentos do tornozelo esquerdo em um treino. Em seguida, sofreu uma fisgada na coxa direita durante a disputa do Troféu Brasil, em julho. Sem grandes marcas – o melhor salto foi 6,21m, o quinto do país – ficou fora do Mundial de Atletismo, em agosto.
Com tantos problemas, Maurren não esconde a chateação com a atual situação. Em conversa por telefone com oLANCE!Net na última terça-feira, desabafou. Ainda mais após ver um assalto em frente à sua casa, em São Paulo. Confira a entrevista:
LANCE!Net: Você já voltou a treinar?
Maurren Maggi: Ainda estou pensando sobre isso. Por enquanto, estou de folga.
L!Net: Você já tem alguma programação para essa temporada?
MM: Não. É um ano meio perdido. Só tem o Mundial (Indoor) no começo do ano (em março, na Polônia). Hoje, o que me interessa é brigar pelo Pan-Americano de 2015 (em Toronto, no Canadá) e pela Olimpíada de 2016. Isso se eu tiver algum patrocínio.
L!Net: Como é ser campeã olímpica e ter de buscar patrocínios?
MM: Sinceramente, é muito triste eu aparecer na pista para os amigos como campeã e desempregada. Um campeão olímpico no Brasil talvez não seja um exemplo, um espelho. Tem pessoas que treinam comigo que podem pensar isso. Ao ver que posso estar desempregada, as pessoas não vão me dar valor. Isso acaba não sendo exemplo. Por mais que a gente vá atrás e com os títulos que tenho, estou brigando por patrocínio. Imagina o restante dos atletas.
L!Net: Você acredita que a Copa do Mundo de futebol tem afastado os investimentos em outros esportes?
MM: Acho que todo o resto é tão barato que é meio banal pensar dessa maneira. Sou apaixonada por futebol, mas é triste pensar que todos os outros esportes são baratos em comparação a ele. Um atleta do atletismo, dos mais bem pagos, vive com R$ 10 mil, R$ 20 mil por mês. É vergonhoso comparar com o futebol. Mas não existe chance e oportunidade de brigar com eles. Tudo o que faço é tentar mostrar que meu esporte é legal, tentar que ele seja bem quisto, tenha visibilidade dos patrocinadores. Sempre fui diferenciada, porque gostava de expor o patrocinador custe o que custar. Depois que fui campeã olímpica, tive patrocinadores que aproveitaram a fase. Espero não me comprometer, mas estou desgostosa com a situação do esporte no país.
L!Net: Quem eram seus patrocinadores? Quando acabaram os contratos com eles?
MM: Era o São Paulo e a Nestlé. Até tenho conversado com Julio Casares (vice-presidente de comunicações e marketing do São Paulo) para ver se assino. Não procuro outros clubes, sou são-paulina. Gostaria de ficar. Os acordos terminaram em 2012.
L!Net: E quem te patrocina hoje?
MM: Só tenho o apoio da Caixa.
L!Net: Como está sua situação financeira atualmente?
MM: Sustento eu e minha filha sozinha. Hoje, coloco na balança para ver se vale a pena trabalhar ou continuar no esporte. Mas só se tiver patrocinador. Não dá para viver de vento.
L!Net: Essa situação deixa você muito chateada?
MM: Com certeza. Acabou de acontecer uma situação ruim na minha vida. Teve um tiroteio na frente da minha casa agora. A polícia está aqui. Faz três meses que não entro na pista por falta de patrocínio. É uma falta de respeito querer encerrar a carreira em 2016 e não ter patrocínio até lá, e ter de parar antes.
L!Net: E o que os membros da Confederação Brasileira de Atletismo falam para você sobre isso?
MM: O pessoal da Confederação é o apoio que eu tenho até agora. Eles estão do meu lado, indo atrás de patrocínio. Talvez eu até já tenha aberto mão de procurar. É uma vergonha bater de porta em porta procurando. Quero ser quatro vezes campeã pan-americana, quero encerrar minha carreira na Olimpíada de 2016.
L!Net: Você recebe alguma ajuda de programas federais?
MM: Recebo do Bolsa Atleta. Mas não coloco no meu orçamento.
L!Net: Com toda essa situação, você tem algum prazo para definir seu futuro?
MM: Dei uma semana para eu decidir se vou continuar ou não. Talvez eu mude para São Carlos por projetos que tenho, ou mesmo me aposente para viver trabalhando. É até domingo... Falei para meu empresário isso. Conversamos no último domingo e falei para ver em uma semana. Não sou uma atleta cara. Até 2016, é a única medalha que temos (no atletismo feminino). Se continuar assim, vai ser a única que vamos ter em bons anos. Não dá para esperar o melhor de mim, se não tiver uma situação boa no meu esporte. Tenho meus projetos, o Troféu Maurren Maggi para crianças de 7 a 12 anos. Mas é uma ironia. Como vou apoiar um projeto de formação de atletas com tudo isso acontecendo? Tenho de pensar...

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