O trânsito do Recife não é seguro. Nem para o ciclista nem para ninguém. O problema da ênfase (às vezes exarcebada) no discurso da “insegurança”, defendem arquitetos, engenheiros e cicloativistas, é que ele muitas vezes vem atrelado ao da necessidade das ciclovias como solução primordial e, por vezes, condição essencial à adoção da bicicleta como meio de transporte.
Não que as ciclovias não sejam importantes em determinadas situações, não é isso. A questão é que ela não é a única solução. E pensar na ciclovia (que é mais cara) como investimento sem o qual o tráfego de bicicletas poderia ser encarado como um trasporte perigoso, significa atrasar a implementação da bicicleta como política de mobilidade, desconsiderar a possibilidade de convívio harmônico entre transportes motorizados e não-motorizados e deixar de lado, mais uma vez, ciclistas “invisíveis”, de classe sócio econômica baixa.
Ao contrário das ciclorrotas e das ciclofaixas, as ciclovias demandam barreiras físicas. Autor do blog Equilíbrio em duas rodas e professor da disciplina estudos da bicicleta, que começará a ser ministrada no próximo semestre na graduação de engenharia mecânica da Universidade Federal de Pernambuco, Fábio Magnani, acredita que as ciclovias têm vantagens e desvantagens. Na opinião dele, elas servem para proteger crianças e idosos, dão uma opção de lazer mais seguro e atraem pessoas que temem andar de bicicleta nas ruas e avenidas. Mas, lembra Fábio, alguns estudiosos defendem que onde há ciclovia, os motoristas acabam achando que bicicletas não podem trafegar na rua, o que é garantido por lei no Brasil.
As ciclovias, além do citado por Fábio Magnani, também podem ser muito úteis em casos de vias com trânsito rápido, caso de grandes avenidas e viadutos. Mas elas precisam ser vistas como mais uma e não a única opção. Sem contar que não há dados inquestionáveis que mostrem que os acidentes com os ciclistas se dão ao longo da via. Pelo contrário. Segundo o professor da UFPE e o arquiteto e ex-presidente da Empresa de Urbanização do Recife César Barros, a maior parte dos acidentes ocorre nos cruzamentos à direita, onde não é possível haver ciclovia.
“Dois pontos são importantes. Primeiro: as vias devem ser compartilhadas. Segundo: é preciso reduzir a velocidade dos carros para garantir a segurança de pedestres e ciclistas. Em todo lugar do mundo, se faz compartilhamento de via”, afirmou Milton Botler. O Plano de Mobilidade do Recife está tramitando na Câmara de Vereadores, na fase do relatório. “No plano, vamos apontar quais as ações dos modais que a gente quer implementar na cidade e vamos estabelecer metas e prazos”, disse o presidente da Comissão de Mobilidade, Gilberto Alves. Depois de aprovado, ele precisa ser regulamentado pelo poder executivo. Cabe à população acompanhar e cobrar.
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