quarta-feira, 19 de outubro de 2011


De falta d'água a árbitros polêmicos, um coro de reclamações no México

Fila no refeitório e má aparência da comida fazem atletas recorrerem a fast food. Trânsito e aparelhos fora do padrão compõem lista de problemas

 Direto de Guadalajara, México
Pan futebol pizza (Foto: Reprodução / Twitter)Seleção de futebol come pizza na zona internacional
da vila do Pan (Foto: Reprodução / Twitter)
"Êeeee Pan”. A frase foi do goleiro Douglas, da seleção brasileira de futebol, mas expressa o que boa parte dos atletas por vezes prefere não falar publicamente. Apesar de os mexicanos serem solícitos e sorridentes, os Jogos Pan-Americanos têm imposto duros desafios antes, durante e depois das disputas. De problemas logísticos a esportivos, Guadalajara virou um festival de reclamações. O que fazer para abstrair? Uma pizza, em vez do almoço ou da janta, já que as filas do refeitório tomam mais de trinta minutos cada vez que se entra lá.
Alguns competidores, principalmente estrangeiros, acabaram recorrendo à praça de alimentação na zona internacional da Vila. Está sempre cheia. E dá-lhe fast food. As meninas da natação adotaram outra tática: chegar antes das 12h no refeitório. Outros reclamam da comida, dizem que o aspecto e a higiene não são dos melhores.
Nos banheiros, a água do chuveiro vai do frio ao fervendo, quase queimando. E por vezes para de cair. Douglas, depois de escrever sobre os contra-tempos em uma rede social, explicou.
- Todos os dias falta água. De 7h às 8h da manhã sai muito pouca água da torneira. Então lavo só cantinho do olho e depois escovo os dentes com Gatorade sabor laranja.. Não quis fazer crítica, só relatei o que está acontecendo.
. Márcio Wenceslau semifinal taekwondo Jogos Pan-Americanos (Foto: Luiz Pires/VIPCOMM) 
Wenceslau foi um dos que reclamaram da arbitragem
A Vila está apertada para a quantidade de atletas. Quem acaba de competir tem apenas um dia ou dois para deixar Guadalajara. Um problema que, na verdade, começou antes mesmo do início dos Jogos, quando a organização se deu conta de que havia excesso de competidores. O Brasil teve de cortar dois nadadores e, chegando ao México, viu que tinha perdido apartamentos. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), então, optou, por conforto, por levar algumas equipes, como vôlei, basquete e hipismo, a um hotel.
O trânsito e a distância das instalações também preocupam. Nem os quase 200km de pistas exclusivas resolvem o problema. No taekwondo, os brasileiros conseguiram montar um tatame dentro da Vila. E ficaram treinando por lá depois do segundo dia na cidade.
Na competição, as reclamações são outras: os árbitros. Nem o uso de coletes eletrônicos, novidade no Pan de Guadalajara, evitou resultados polêmicos. Márcio Wenceslau saiu de lá chateado. Até o treinador da República Dominicana, que assistia à luta, se manifestou.
- Tiraram a vitória dele. É um ótimo competidor. Não merecia isso – disse José Morán .

No dia seguinte, uma de suas atletas foi derrotada.
- Há favorecimento para países grandes, mas não se pode fazer nada.
Eliminado nas quartas de final, Diogo Silva, que defendia o título na categoria até 68 kg, também não gostou muito da arbitragem.

- Já tivemos dias melhores... Aqui no México o plano não está dando tão certo em relação à arbitragem - disse Diogo, triste por ter de ir embora um dia depois de sua luta.
ginástica rítmica  Angélica Kvieczynski final Pan de Guadalajara (Foto: Jiménes/Photo&Grafia) 
Angélica reclamou das notas na ginástica rítmica
Na ginástica rítmica, foi a brasileira Angélica Kvieczynski quem reclamou. Não entendia onde os árbitros tiraram pontos em sua apresentação de bolas. Ficou com o bronze.

- Com certeza a pressão da torcida influencia – disse a treinador dela, Anna Danielyan.

A ginástica, por sinal, vem sofrendo um bocado. Quando choveu, o ginásio, cheio de goteiras, ficou molhado. Quando o sol abriu, a luz atrapalhou as ginastas. Batia nos olhos, e fez com que algumas de repetir as apresentações nas eliminatórias. No trampolim, o problema foi o aparelho escolhido para os Jogos.

- Normalmente em competição internacional não é esse trampolim. Esse daqui é um pouco mais duro. Quando estava novinho, era bem duro, mas agora está bom – disse Giovanna Matheus.
Nas piscinas, coro de reclamações pelas trapalhadas. Campeão olímpico e mundial Cesar Cielo passou frio na área de aquecimento.
cesar cielo natação treino pan americano guadalajara (Foto: Satiro Sodré/Agif) 
Cielo: treino em piscina de soltura fria
- Eu queria ter comprado uma luva, está muito frio. A piscina de soltura está um Alasca. A de competição está mais quente por causa da arquibancada.

Leonardo de Deus quase perdeu uma medalha de ouro porque o árbitro que confere os trajes deixou que ele passasse usando uma touca dele com patrocínio. A organização acabou reconhecendo o erro e voltou atrás, devolvendo a medalha.

- É complicado você ganhar uma prova e, por falta de organização, tirarem uma coisa que você conquistou por mérito. Eu chorei porque, imagina você conquistar uma coisa e tirarem de você, na frente de não sei quantas mil pessoas, e não sei quantos mil brasileiros torcendo, você levando o Brasil nas costas – disse o nadador.

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