CONHEÇA TOM, NADADOR QUE DERROTOU O MENINO CIELO
Sorridente, Tom Correa aparece em primeiro lugar, deixando César Cielo apenas com a terceira posição e com um semblante nada feliz
Newton Correa, ou simplesmente Tom. Esse é o nome de uma das poucas pessoas que conseguiram a façanha de derrotar César Cielo, o nadador mais rápido do mundo. É verdade que ambos tinham apenas 12 anos. Logo depois dos Jogos de Pequim 2008, uma fotografia foi retirada do baú e veio à tona, mas, há alguns meses, quando Tom a publicou no Facebook, a história deu o que falar. Na imagem, o garoto, hoje engenheiro civil, aparece em primeiro lugar no pódio de uma prova de 400 m livre, e o atual campeão olímpico e mundial, em terceiro, com dono de um semblante nada animador.
Em entrevista ao Terra, Tom, hoje com 23 anos, faz algumas revelações sobre a infância e adolescência de Cielo e aproveita para mostrar algumas fotos do garoto de Santa Bárbara d´Oeste que hoje se tornou um dos grandes ídolos do esporte brasileiro.
"Foi uma prova para fundistas e eu sempre fui fundista, mas o Cielo tentava de tudo, 100 m, 200 m, 400 m. Aquela era uma prova de 400 m e eu fiz 4min20s contra 4min37s do Cielo. Ele não era um bom fundista e nem um velocista muito bom naquela época. Não era bom desde pequeno e demorou para o talento florescer. Foi gradativo. Essa foto veio à tona depois da Olimpíada e voltou à pauta depois que a publiquei no Facebook. Todo mundo começou a me perguntar por que eu não estava na Olimpíada, mas não é bem assim. Não é qualquer um que chega lá", afirmou o ex-nadador.
Tom não poupou elogios a Cielo e afirmou que o nadador sempre foi uma pessoa dedicada. Desde criança já se preocupava com alimentação, preparo físico e todos os componentes que formam um grande atleta. No entanto, Tom lembra de um grande "defeito " do amigo, o que pode ser considerado uma qualidade para alguns.
"O Cielo sempre foi um cara muito dedicado. Sempre que ele aumentava o tempo, ficava muito bravo, jogava as coisas na parede. Uma vez ele contou que tinha esquecido uma garrafa de vidro dentro da mala e jogou essa mochila na parede. Estourou a garrafa e molhou tudo. Ele sempre foi muito Caxias na natação, sempre se alimentou direito, etc, mas é por isso que está onde está", completou Tom, reconhecendo o sucesso merecido do atleta.
Em contato com o Terra Cielo afirmou que não esqueceu do então amigo Tom e disse que o "rival" era imbatível, principalmente nas provas de 400 m. "Eu me lembro dele, sim. Na verdade, me lembro de ter nadado com ele 200 m e 400 m livre. Nessa época, eu também nadava os 100 m costas. Nós éramos amigos e conversávamos bastante. Não conheci o Tom no interior, mas em competições. E esse cara era imbatível nos 400 m livre. Eu nunca ganhei dele nos 400 m, só nos 200 m. Aos 15 anos, quando vim para São Paulo, parei de nadar os 400 livre e os 100 costas e passei a me dedicar às provas de velocidade, os 50, 100 e 200 m livre".
Tom e Cielo não se encontravam regularmente nas competições. Cielo era do Barbarense e Tom, do Pinheiros. Quando o campeão olímpico mudou-se para São Paulo, para treinar com Gustavo Borges, Tom deixou o Pinheiros e os dois não tiveram mais muito contato.
"Ele era do interior e nadava o Aberto e eu o Regional, então não nos encontrávamos muito. Essa prova dos 400 m foi a única que me lembro. Mas depois que ele veio para São Paulo para treinar com o Gustavo Borges ele passou a ganhar todas. Uma vez eu quase ganhei dele nos 200 m livre que foi na batida de mão", lembrou Tom, que chegou a nadar ao lado de Thiago Pereira, Joana Maranhão, Felipe França, Lucas Salatta e Guilherme Guido.
Mesmo em clubes diferentes, Cielo e Tom tinham treinamentos iguais. E para quem pensa que os treinos eram leves, por se tratar de praticamente duas crianças, se engana. "Era de segunda a sábado, pelo menos duas horas por dia, musculação três ou quatro vezes por semana, além da chamada dobra, que além das duas horas diárias você tinha que arrumar um horário para nadar mais uma hora, de madrugada, ou qualquer outro horário. O treino rendia uns 5 ou 6 km por dia", explicou.
Tom lembrou que sempre o questionam sobre o motivo de ter abandonado a natação. A resposta é simples: "chega um momento, quando você tem uns 16, 17 anos, que passa a ser muito difícil baixar seu tempo, diferente de quando você é criança, que baixa cinco, seis segundos de uma vez. Depois passa a precisar de mais paciência, mais dedicação. Eu nunca cheguei a ser campeão brasileiro, sempre chegava em segundo, terceiro, e isso me desmotivava. Aí tive que escolher entre a faculdade de engenharia e a natação. Não é uma coisa fácil. São poucos que chegam ao sucesso".
O técnico Felipe Domingues, que na época treinava Tom e era assistente de Albertinho, hoje treinador de Cielo, comentou sobre o desempenho dos dois. "Os treinos eram os mesmos e as competições entre os dois eram muito equilibradas. O Tom poderia ter o talento, mas não sei se conseguiria ser campeão olímpico. Eu conheço os dois e é impressionante ver o Tom nadando. Ele saía atrás por conta do problema auditivo e, mesmo assim, conseguia ser campeão várias vezes", afirmou Felipe, lembrando que Tom tem um problema auditivo desde pequeno.
Albertinho também lembra de Tom e afirmou que o engenheiro poderia ter brilhado na Seleção Brasileira, representando o País nos torneios internacionais. "O Tom é um garoto com muito talento. A irmã dele foi uma das mais talentosas que eu vi e sempre foi bastante badalada desde pequena. Ele era um pouco ´tranquilão´ para um nadador. Você ter essa tranquilidade no momento tenso, é bom, mas às vezes tem que ter mais agressividade", lembrou Albertinho.
"Não dá para saber se teria bons resultados hoje. Ele tinha talento para ser um nadador de Seleção Brasileira, o que pode levar a só participar da Seleção ou até mesmo ganhar uma medalha. Ele tinha, a princípio, muito talento para chegar à Seleção principal, trabalhando esse fator da agressividade", completou o treinador do campeão olímpico César Cielo.
Cielo fez coro ao treinador e afirmou que não tem como saber se Tom seria um atleta olímpico ou um mero praticante da natação, como muitos brasileiros. "Cada caso é bem particular mesmo. Cada um tem seu sonho. A prioridade, às vezes, é estudar. E no Brasil o estudo faz diferença. O 3º colegial é o grande momento de o nadador escolher entre o esporte e a carreira".
Mas Tom não perdeu o contato com a natação. O engenheiro voltou a nadar e é treinado pelo antigo técnico, Felipe, mas afirma que não se arrepende de ter deixado o sonho de ser profissional para tomar outro rumo na carreira. "Procuro não pensar nisso. Podia ter dado certo ou não. Não me arrependo, gosto do que eu faço e acompanho as provas dele (Cielo), os recordes e continuo gostando de natação".
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