terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"A DOR É MINHA AMANTE MAIS GOSTOSA", DIZ RECORDISTA MUNDIAL


André Brasil quer mais reconhecimento do poderoso esporte paraolímpico brasileiro


















Direto do Blog de Noticias do Swim IT Up.


Thiago Bordini Tufano É normal que atletas de alto rendimento sofram com as dores, com o excesso de treinos e com a forte rotina de grandes competições. Mas, em entrevista ao Terra, o nadador paraolímpico André Brasil admite ter uma "relação amorosa" com a tão temida dor. Com "sangue nos olhos", o recordista mundial dos 50, 100 e 800 metros livre e nos 50 e 100 metros borboleta afirma que supera todos os obstáculos que aparecem na sua frente e que seus ótimos resultados dentro da água servem de motivação para muitos outros atletas.
"É algo que machuca, massacrante, mas eu digo que a dor é nossa maior amiga, é minha amante mais gostosa, porque ela está comigo 24 horas. Se não fosse isso, se não fosse essa dor, talvez o resultado não fosse tão valorizado. Individualmente sabemos que cada resultado, cada melhora é motivador. Fiquei em quarto lugar em 2008 e dois anos depois eu era recordista mundial na mesma prova. É a evolução. Sei que quando evoluo, trago muita gente junto comigo. Meus adversários falavam que minha motivação os motivava. Isso é muito bom e não deixa eu me acomodar. Tenho sangue nos olhos e doendo muito vou estar sempre lá na piscina", afirmou André.
Com poucos meses de vida foi diagnosticada em André Brasil a paralisia infantil, conhecida também por poliomelite, por reação vacinal. Isso faz com que o nadador seja colocado pelo Comitê Paraolímpico Internacional na categoria S10, que recebe atletas com menos dificuldades. Mas não foi tão simples entrar na natação paraolímpica.
André já nadava e tinha tempos até melhores que os atletas profissionais que participavam das Paraolimpíadas. Até que seu pai, durante os Jogos de Atenas 2004 o chamou para assistir a algumas provas pela televisão. Ao ver Benoit Huot, um canadense, André ficou impressionado. "Eu olhava para ele e tentava descobrir o que ele tinha. Mas não era só ele. Todos os outros também. Era sequelas mínimas e eu pensei: ´o que estou fazendo aqui em casa?´". André foi então procurar o Comitê Paraolímpico Brasil (CPB) e começou a competir.
O talento fez com que André batesse logo de cara três recordes mundiais, em 2005. "Naquela época a Caixa tinha um projeto muito legal com as três principais modalidades paraolímpicas, que é a natação, atletismo e halterofilismo. Na primeira competição quebrei três recordes mundiais". Mas em setembro daquele ano a situação ficou complicada para André.
"Nacionalmente eu tinha sido validado como atleta paraolímpico, mas internacionalmente ainda não. Essa classificação serve para ver em qual classe eu me encaixaria. Quando participei de um evento internacional no Rio vi que a vida é gostosa de viver, mas é cruel em alguns momentos. Sou um atleta, de cor escura, sul-americano, que está entrando em um esporte diferente e com recorde mundial. Isso significa que eu tomaria a vaga de um americano, de um canadense. Foi então que me falaram que eu não era um atleta paraolímpico, que eu não tinha uma deficiência que me qualificava estar no esporte", contou.
Depois disso, André passou sete meses sem sequer cair em uma piscina, abandonando de vez a natação. "Queria entender onde uma pessoa com deficiência, avaliada por vários médicos que tinha uma deficiência, se ela não se enquadra no esporte paraolímpico e com os resultados não consegue chegar a uma Olimpíada, onde ela se enquadra? Foi uma longa batalha, mas junto ao Comitê Olímpico Brasileiro provamos que sou um atleta paraolímpico. Voltei ao esporte em 2006, fiz uma reclassificação e hoje provo para todo mundo que se o médico fala ´não´ eu digo ´sim´. Nada é impossível".
André conta que após esse tropeço em sua carreira ele entende melhor a politicagem presente no esporte e revela ainda que existem atletas paraolímpicos que fazem "corpo mole" para serem encaixados em categorias diferentes para conquistarem melhores resultados. "Antigamente as pessoas tinham essa mentalidade. O esporte é para te dar igualdade. Quando falamos que 25 milhões de pessoas no Brasil têm deficiência, esse deficiente entra em um meio que só convive com pessoas com deficiência. Hoje muitos falam para mim que não querem competir só por competir, mas sim para ganhar. Sabemos que existe politicagem, mas não é pela igualdade e pela disputa sadia do esporte. Isso vai sempre existir. Temos que provar que é um esporte novo, que cresce e mostra resultado".
Depois de cinco recordes mundiais, cinco medalhas de ouro e uma de prata no Mundial de Natação de Eindhoven e quatro ouros, uma prata e um bronze nas Paraolimpíadas de Pequim, André Brasil conta como faz para manter a motivação em alta quando cai na água.
"O grande lance é que o dia em que minha natação estiver perfeita, com virada, saída, chegada perfeitas, é hora de parar, porque não vou evoluir mais. Enquanto falarem que eu tenho que melhorar, vou continuar. Quero que as pessoas falem que está errado. É isso que me motiva, que me faz crescer", concluiu.

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