domingo, 4 de novembro de 2012


Lance Armstrong disputa o Tour de France, competição que venceu por sete vezes
Lance Armstrong disputa o Tour de France, competição que venceu por sete vezes.

Ciclistas brasileiros veem Armstrong como bode expiatório e lamentam punição: "estamos órfãos"

  • Lance Armstrong foi banido do esporte e perdeu seus sete títulos da Volta da França por uso de doping, mas sua imagem continua intacta para os ciclistas brasileiros. Fãs de um dos maiores ícones do esporte mundial veem a punição como ‘caça às bruxas’ porque consideram o doping já disseminado entre os ciclistas de alto rendimento. Por isso, mantêm o apoio ao ídolo e se dizem órfãos.

BRASILEIROS SÃO FÃS DE ARMSTRONG

  • Luiza Oliveira/UOL Karin Kenzler e Marcel Mendes praticam ciclismo e mantiveram a admiração por ídolo após escândalo
  • Luiza Oliveira/UOL Técnico Danilo Guedes acha que o doping é disseminado entre atletas de alto rendimento
  • Flavio Oliveira e Carlos Guedes pedalam há mais de três anos. Eles criticam punição tardia a Lance
  • Lance é considerado um mito do ciclismo e inspirou uma geração não apenas por sua carreira vitoriosa, mas também por sua história de superação após travar uma longa luta contra o câncer nos testítulos, no pulmão e no cérebro que o fez ter apenas 40% de chance de sobrevivência. A fundação Livestrong também é considerada um importante legado do atleta.
Karin Kenzler é triatleta e pratica o ciclismo pelo menos três vezes por semana com a equipe 100boleto.com em São Paulo. Ela valoriza a história de vida do ídolo e acredita que o doping é disseminado entre os ciclistas.
“É tudo mérito dele. Para fazer o que ele fez, o que superou na vida, ele podia ficar em último lugar na maior volta do mundo. Ele teve câncer pelo corpo inteiro. Achar que os outros não estavam dopando é acreditar em Papai Noel. Papai Noel não existe. Todos eles tomam (substâncias ilícitas)”, disse.
O técnico da equipe, Marcel Mendes, compartilha do mesmo sentimento da colega e não perde a admiração por Armstrong, mesmo após o escândalo. “Ficamos órfãos, o planeta fica órfão ao perder a representatividade do Armstrong. Mas ficou o legado. Aprendi muito com ele. Além da superação, a gente é fã do Lance porque ele passa uma excelente técnica de pedalada. Ele transfere a força do corpo para o giro do pedal. Ele tem giro e força. Isso não é o doping que faz”.
A USP (Universidade de São Paulo) é palco de treinos da maior parte das equipes da capital. Logo cedo, por volta de 5h, o campus já está lotado de atletas que pedalam por quase duas horas.
O doping de Lance não surpreende os ciclistas que lamentam a banalização do uso de substâncias proibidas na modalidade. Eles criticam a prática, porém admitem que se tornou habitual, até entre amadores.
Aos 46 anos, Marcel pedala desde os 13 e já viu muitas coisas. “A gente vê até aqui. O cara sempre treinou o mesmo tanto que você, você está no seu limite e, de repente, o cara passa por você e nem transpira. A gente chama de mutante. Imagine isso em alto nível. O laboratório do doping está dez anos à frente da fiscalização desde que o ser humano existe”, analisou.
Um questionamento constante é o momento da punição de Armstrong, que teve seus títulos cassados e foi banido do esporte 12 anos depois da primeira vitória na Volta da França, quando já estava aposentado.
Para muitos, ele é perseguido e se tornou uma espécie de ‘bode expiatório’ por ocupar o protagonismo no esporte mundial, especialmente porque não foi flagrado no antidoping na época em que competia. A base da acusação foram depoimentos detalhados de 11 ex-colegas de equipe.
Um de seus maiores rivais, por exemplo, o espanhol Alberto Contador foi flagrado no antidoping com substância proibida na Volta da França 2010 e foi suspenso por dois anos pelo Tribunal Arbitral do Desporto (CAS), mas já voltou a competir.
Adepto do ciclismo há dez anos e técnico da Race Consultoria Esportiva, o educador físico Danilo Guedes questiona os critérios da Agência Antidoping dos Estados Unidos (USADA). “Tem que pegar na hora e não depois que aposentou. Ou pega na hora ou não tem porque pegar depois. Foi um caça as bruxas, um cara que tem muita raiva dele e quis puni-lo. Nesse nível de competição, todo mundo usa. Envolve muito dinheiro. É patrocinador cobrando e o cara precisa melhorar o rendimento. Outro passa na frente, você tem que ganhar também. É errado, mas infelizmente acontece assim”, analisou.

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